Estudo de estabilidade
Especialistas destacam os riscos de confiar em estudos de estabilidade acelerados

O estudo de estabilidade acelerado pode ajudar as marcas a estimarem a longevidade de um produto mais rapidamente simulando condições de deterioração mais crítica que o determinado no estudo de longa duração, mas especialistas alertam que ele pode não refletir com precisão fatores do mundo real, como exposição à luz e ao oxigênio, tornando-o mais adequado para identificar os piores cenários em vez de definir datas precisas de “Melhor até”.

Para saber se seu produto durará um ou dois anos nas prateleiras ou no armazenamento, basta fazer um lote, esperar um ou dois anos, testá-lo e você descobrirá. Por ser um procedimento lento, muitas marcas estão optando por acelerar o trâmite para obtenção dos resultados. O teste de estabilidade acelerado manipula os parâmetros que eventualmente levam à deterioração, como umidade e calor, em uma incubadora para criar uma estimativa de vida útil em uma fração do tempo. Este é um serviço oferecido por muitos co-fabricantes e laboratórios, permitindo que as marcas coloquem seus produtos no mercado mais cedo e potencialmente com uma data de validade mais distante no rótulo.

É uma proposta tentadora, mas que traz riscos, de acordo com especialistas. Eis por que eles dizem que você deve pensar duas vezes antes de usar testes acelerados para determinar vida útil de um alimento.

Não é adequado para estabelecer vida útil

“Muitas marcas ou muitos fabricantes terão problemas ao dizer: ‘Coloquei isso em uma câmara acelerada por um mês a 30 graus Celsius ou 40 graus Celsius, e isso equivale a seis meses na vida útil real’”, disse Dalton Honoré, cientista de alimentos e fundador da marca de kombucha de café fermentado Dreamland Koffucha, sediada na Louisiana. E a razão, ele disse, é que o calor é apenas parte da equação.

“Há certos fatores que são impossíveis de replicar”, ele explicou. “A exposição à luz, por exemplo, é algo que pode realmente degradar um produto. A exposição ao oxigênio é algo que você sabe que vai acontecer e vai acelerar com temperaturas mais altas, mas ainda não vai ser o mesmo que você verá se estiver sentado em uma condição ambiente ou de armazenamento. Como não há meios de testar todos esses fatores, este procedimento acaba por testar apenas um ou dois atributos de deterioração, ignorando os demais atributos diferentes.”

Essa incerteza pode criar confusão sobre o que, exatamente, está se decompondo e em que taxa. É um sabor? Um ingrediente funcional? Uma interação entre ingredientes? Em um ambiente acelerado, pode ser difícil dizer.

Por esse motivo, ao invés de confiar em incubadoras para criar uma data de validade, Honoré recomendou começar com uma vida útil conservadora e estendê-la progressivamente ao longo do tempo.

Boa opção para testar os piores cenários

De acordo com Honoré, testes acelerados podem ser interessantes em certas circunstâncias. O maior deles é testar como um novo produto responde a condições extremas.

“Se você quiser usá-lo para testar seu pior cenário, acho que há valor nisso”, disse Honoré. “Digamos que você o exponha a calor extremo e ele ainda se mantenha. Esse é um bom indicador de que ele deve resistir a ficar na prateleira de um supermercado em temperatura ambiente.”

Ele acrescentou que um ponto de dados ainda mais útil pode ser se um produto falhar neste teste. Testes acelerados podem revelar grandes problemas potenciais um pouco mais cedo.

“Muitas vezes, você começará a ver que seu produto quebrará muito mais rápido do que o previsto sob esse tipo de condições extremas”, explicou Honoré. “E mesmo que isso não lhe dê uma ‘data’ real, ainda permitirá que você volte à prancheta muito mais rápido do que se tivesse esperado dois ou três meses para descobrir os mesmos dados.”

A Anvisa permite os testes acelerados?

Sim!! A possibilidade do teste acelerado está prevista no Guia nº 16, de 03 de julho de 2024 (Guia para determinação de prazos de validade de alimentos), porém, a Anvisa deixa claro que esta deverá ser uma escolha consciente e adequada para o produto em teste, a depender da matriz utilizada e formulação.

Mas notem que o próprio Guia da Anvisa já aponta as limitações do estudo acelerado:

… o modelo clássico de Arrhenius pode ser utilizado, o que permite que as previsões sejam feitas para a validade e sobredosagem de um produto. Estas previsões devem basear-se nos seguintes pressupostos:

Que o modelo é válido para todas as reações estudadas;

O mesmo mecanismo de reação ocorre na faixa de temperatura do estudo;

A energia de ativação está em um intervalo definido; e

Que os efeitos da umidade à temperatura ambiente sejam equivalentes a manter umidade relativa nas temperaturas mais elevadas.

 

Atualmente já é praticado um modelo mais aprimorado de estudo acelerado, o ASAP – Accelerated Stability Assessment Program. Nele, a equação de Arrhenius é modificada para considerar a umidade, e o estudo é feito em mais de duas temperaturas, mais extremas, para de fato forçar o produto a falhar.

Porém, esse modelo ainda tem caráter exploratóri0, e as agências regulatórias não o aceitam em substituição ao acelerado.

Indiscutivelmente, o estudo ideal é o de longa duração. Entretanto, o estudo acelerado pode auxiliar no maior conhecimento acerca do produto e complementar as informações obtidas no estudo de longa duração, sobre seu comportamento frente aos fatores de deterioração.

Desta forma, fique atendo na escolha, e contrate uma empresa que possa te ajudar na decisão!

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