Prebióticos: avanços científicos e o panorama regulatório no Brasil
Introdução
A Gerência-Geral de Alimentos (GGALI/Anvisa)
Nos últimos anos, os prebióticos têm ganhado destaque nas pesquisas científicas e no desenvolvimento de alimentos funcionais e suplementos. O crescente interesse se deve ao papel dessas substâncias na modulação da microbiota intestinal e nos potenciais benefícios à saúde digestiva, metabólica e imunológica.
Mas apesar do reconhecimento científico internacional, o termo “prebiótico” ainda não está formalmente autorizado para uso em rótulos de alimentos e suplementos no Brasil. Entenda, abaixo, o que são prebióticos, por que despertam tanto interesse e qual é a situação regulatória atual.
O conceito de prebiótico foi introduzido em 1995 por Gibson e Roberfroid, definindo substâncias capazes de estimular seletivamente o crescimento de bactérias benéficas, como Bifidobacterium e Lactobacillus.
A definição moderna, publicada em 2017 pela International Scientific Association for Probiotics and Prebiotics (ISAPP), ampliou esse entendimento. Segundo o consenso:
“Prebiótico é um substrato seletivamente utilizado por microrganismos hospedeiros que confere um benefício à saúde.”
(Gibson et al., 2017 – ISAPP)
Ou seja, o efeito benéfico deve ocorrer por meio da interação com a microbiota, e não apenas pela presença da substância em si. Nem toda fibra é um prebiótico — e nem todo prebiótico é uma fibra.
Como atuam no organismo
Os prebióticos têm sido associados a uma série de efeitos fisiológicos positivos, como:
- Melhoria do trânsito intestinal e da frequência evacuatória;
- Aumento da produção de ácidos graxos de cadeia curta (como butirato e propionato);
- Redução do pH intestinal e inibição de microrganismos patogênicos;
- Apoio imunológico e equilíbrio da microbiota;
- Maior absorção de minerais como cálcio e magnésio.
Entre os prebióticos mais estudados estão a inulina, os frutooligossacarídeos (FOS), os galactooligossacarídeos (GOS), a lactulose, o amido resistente e a polidextrose.
O que diz a Anvisa
No Brasil, o termo “prebiótico” é considerado uma alegação funcional, e seu uso depende de aprovação prévia da Anvisa, conforme a Resolução RDC nº 18/1999 e o Guia nº 55/2021.
Atualmente, nenhum ingrediente ou alimento voltado ao público geral pode veicular a palavra “prebiótico” em sua rotulagem. A única exceção está nas fórmulas infantis, conforme a IN nº 367/2025, que autoriza o uso da expressão “com prebióticos” em produtos contendo determinados oligossacarídeos reconhecidos como seguros e benéficos.
Entre as principais normas relacionadas ao tema estão:
- RDC nº 18/1999 – Diretrizes para comprovação de propriedades funcionais e de saúde;
- Guia nº 55/2021 – Procedimentos para aprovação de alegações funcionais;
- IN nº 28/2018 – Listas de constituintes e alegações nutricionais para suplementos alimentares.
Segundo o Guia nº 55/2021, para que uma substância possa ser reconhecida como prebiótica é necessário comprovar, com revisões sistemáticas de estudos clínicos em humanos, a relação de causa e efeito entre seu consumo e o benefício alegado.
O cenário internacional
O tema dos prebióticos ainda está em consolidação regulatória também no exterior:
- Estados Unidos (FDA): não há definição jurídica formal para “prebiótico”. Ingredientes como polidextrose e inulina são reconhecidos como fibras dietéticas quando demonstram efeitos fisiológicos benéficos.
- União Europeia (EFSA): reconhece o conceito científico de prebióticos, mas não aprovou até o momento nenhuma alegação de saúde associada ao termo.
- Codex Alimentarius: ainda não possui diretrizes específicas para o uso do termo “prebiótico”, embora reconheça a importância de carboidratos não digeríveis com benefícios comprovados.
Desafios e perspectivas
Embora o conceito de prebiótico seja amplamente aceito no meio científico, seu uso regulatório ainda é limitado. No Brasil, a Anvisa não possui lista positiva de prebióticos nem definições normativas formais — e qualquer alegação funcional depende de comprovação clínica robusta.
A tendência é que o avanço científico, aliado à colaboração entre empresas, universidades e órgãos reguladores, fortaleça a base de evidências necessária para futuras autorizações.
Até lá, essas substâncias permanecem reconhecidas como fibras alimentares funcionais, com potencial promissor, mas ainda sem a chancela oficial de “prebiótico”.
Referências
- Gibson, G.R. & Roberfroid, M.B. (1995). Dietary modulation of the human colonic microbiota: Introducing the concept of prebiotics. J. Nutr.
- Gibson, G.R. et al. (2017). The concept of prebiotics revisited: a consensus statement from the ISAPP. Nature Reviews Gastroenterology & Hepatology, 14(8): 491–502.
- ISAPP (2017). Consensus Statement on the Definition and Scope of Prebiotics.
- ANVISA – Resolução RDC nº 18/1999.
- ANVISA – Guia nº 55/2021.
- ANVISA – IN nº 28/2018.
- ANVISA – IN nº 367/2025.
- U.S. Food and Drug Administration (2018). Scientific evaluation of non-digestible carbohydrates.
- European Food Safety Authority (2017). Re-evaluation of polydextrose (E 1200).
- Codex Alimentarius (2018). Proposal for international prebiotic guidelines for use in foods and dietary supplements.